Quando penso em "oração", costumo pensar em palavras. Dirigir palavras a Deus. Falar-Lhe (pois se "oração" vem de "os = boca", a mesma raíz de "oral"!), mas também escrever-Lhe. Mesmo que fale mentalmente, penso em dirigir-me a Ele por frases.
Oração => palavras. Será isto verdade? Será que a oração tem de ser por palavras?
Segundo o dicionário Priberam online:
oração
s. f.
1. Prece; reza.
2. Fala; discurso panegírico.
3. Gram. Proposição.
Tudo levaria a crer que sim. Condizendo com o sentido 3, o da gramática, das orações-proposições (subordinadas e subordinantes, por exemplo).
Quando penso em oração, seja de louvor, de penitência ou arrependimento, de intercessão, de petição por mim ou por outros, penso em dizer frases de louvor, penitência, petição e tudo o mais. E quando me disponho a orar, disponho-me a enviar palavras a Deus.
Só que às vezes não me saem palavras. É o silêncio.
Há pessoas para quem o silêncio interior é um dom cultivado. Os contemplativos, por exemplo (basta pensar no filme de título "O Grande Silêncio").
Eu não sou uma delas. Dentro de mim, a maior parte das vezes, há muitas palavras, muitas vozes em simultâneo, como num café, um e outro e mais outro raciocínio a correrem em paralelo. O silêncio interior foge-me entre os dedos quando o persigo (para pensar, para ouvir as vozes pequeninas e quase silenciosas que habitualmente são escondidas pelas outras, palavrosas, ou mesmo para estar diante do Sacramento). Quero-o, e não o tenho. O silêncio nunca alcançado.
Mas há também o silêncio não pedido nem desejado. Querer ir ter com Deus em oração e não ter palavras. Uma tela em branco, e a paleta em branco. Um pincel, mas nenhuma tinta. Já não posso falar, só estar. "Jesus está comigo, eu estou com Jesus".
É tempo de aprender a estar.
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